Vindas do interior do Estado,
mulheres que atuam como agentes penitenciárias em Canoas contam a rotina de
trabalho e vencem o preconceito da profissão que escolheram.
Lotadas na Penitenciária Estadual de Canoas I (Pecan I), as profissionais que atuam como agentes penitenciárias (cargo também conhecido como policial penal) somam 17 mulheres - enquanto os homens ocupam 48 destes postos de trabalho na unidade. Com jornada de 24 horas em regime de plantão - e folgas de 96 horas, as agentes cumprem funções como conferência de celas, resguardam a integridade dos apenados e mantêm a disciplina e a segurança no ambiente prisional.
Vale destacar que quem trabalha
na Pecan I não tem contato direto com os apenados. As galerias, que juntas abrigam
390 homens, possuem passarelas por onde todos os agentes circulam e é por ali
que monitoram as celas.
"Meus primeiros plantões
foram bem tensos"
Mais nova do grupo de agentes
penitenciárias entrevistadas por nossa reportagem, Suzane Koehler tem 27 anos,
é formada em Direito e atua na Pecan I desde outubro. “Comecei a estudar para
concurso mais na área administrativa e depois de um tempo passei para a área da
segurança pública. Durante os estudos surgiu o concurso da Susepe. Fiz primeiro
para agente penitenciário administrativo. Atuei nesse cargo por um ano e depois
fui chamada para o cargo de agente penitenciário e estou desde outubro de 2019
aqui na Pecan.”
Natural de São Borja,
Analice Azevedo veio para Canoas atrás de um sonho. Aos 32 anos, o semblante é
justamente o de alguém que sabe o que quer e gosta muito do que faz.
"Tinha minha formação como jornalista, estava insatisfeita e busquei novas
alternativas. Descobri a Susepe, passei, conquistei minha vaga e hoje estou
aqui na Penitenciária de Canoas trabalhando como agente penitenciária. Vim em
busca de um sonho e hoje tenho muito mais tranquilidade, muito mais prazer em
trabalhar.”
Assim como no jornalismo, Analice
prefere se manter imparcial em relação aos delitos cometidos pelos apenados da
Pecan I. Ela ressalta a boa preparação que os agentes recebem no curso de
formação, o que a faz não temer nada no cargo que ocupa.
Nosso trabalho não é julgar, é fazer com que eles tenham
condições para que possam se ressocializar e depois ter uma vida
normal.Trabalhamos em regime de plantão. Saindo daqui, eu esqueço, não levo
nada para casa.
Ela ainda cita um "pré-conceito" que existia na mente
da então jornalista com relação à função que desempenha hoje, o que mudou com a
prática.
"Existia na minha cabeça um certo preconceito de que a mulher não
era bem vista na segurança pública em geral, que as mulheres não poderiam fazer
as mesmas coisas que os agentes masculinos. Mas, chegando aqui, eu vi que não.
A gente faz o mesmo trabalho. Existem funções específicas mínimas que a gente
não pode fazer, mas de resto fazemos o mesmo trabalho. Isso me motiva, me deixa
feliz. O nosso papel no sistema é mostrar a nossa força, que a mulher faz a
mesma coisa que o homem no sistema penitenciário.”
"Hoje, trato como uma
vocação"
Ana Paula Costa atua em uma frente um pouco diferente, mas assim
como Analice é uma das 17 agentes penitenciárias da Pecan I. Ela trabalha
operando o scanner corporal, equipamento usado para revistar visitantes -
basicamente mulheres. "É pela segurança e também por não passar pelo
constrangimento da revista corporal, que antes era minuciosa. Agora passam de
roupa e antes tinha que ficar só com roupas íntimas.Além disso, o processo
também é mais rápido e mais seguro.”
Aqui é um lugar bem seguro para
nós agentes, mas claro que tem sempre o receio de acontecer alguma coisa.
Estamos tratando com apenados e a gente não sabe o que eles passaram antes de
entrar aqui, o que passa na cabeça deles. Por mais que eles tenham um tratamento
psicológico com assistente social, psicólogos, a gente não sabe qual momento
eles estão passando. Então, temos que tratar com respeito.
Formada em Economia, Ana Paula
nasceu em Santa Maria e veio para Canoas há cinco anos. "Fiz o concurso em
Santa Maria e fui lotada primeiramente em Venâncio Aires. Depois, fui
Encruzilhada do Sul, retornei para Venâncio e depois vim para cá, na metade de
2015. Eu já tinha interesse na segurança pública quando resolvi fazer concurso.
Nunca tinha entrado numa penitenciária. Hoje, trato como uma vocação. Estou
muito feliz com a profissão.”
OPINIÃO DO REPÓRTER | VENDO DE
PERTO A ESTRUTURA DA PECAN I
Eu nunca havia entrado em uma
penitenciária e garanto que no imaginário de grande parte das pessoas as casas
prisionais são como eu pensava: um local totalmente escuro, corredores com
celas gradeadas superlotadas, mau cheiro e detentos reclamando das condições em
que vivem.
Acredito que a maioria dos locais que abrigam presos no Brasil seja exatamente assim, mas na Pecan I a realidade é bem diferente. Celas com portas de ferro - e não grades. É um pouco escuro, mas mais claro do que na minha imaginação, e com odor bem menos forte. Galerias no lugar de pavilhões sem fim.
Acredito que a maioria dos locais que abrigam presos no Brasil seja exatamente assim, mas na Pecan I a realidade é bem diferente. Celas com portas de ferro - e não grades. É um pouco escuro, mas mais claro do que na minha imaginação, e com odor bem menos forte. Galerias no lugar de pavilhões sem fim.
Mas o que mais chamou minha
atenção foram os seguintes aspectos: os agentes não têm contato com os presos,
as celas têm uma cama para cada um deles (são 8 por cela) e há janela em
tamanho "normal", o que traz ao ambiente uma sensação que difere da
clausura construída em minha mente. Como citou a diretora da Pecan I, Magda
Rosane da Silveira Pires, "é uma penitenciária modelo, que se destaca no
Estado". O mundo na Pecan I obviamente não é cor-de-rosa, mas perto de
outras cadeias certamente tem cores.
Fonte: Jornal NH
Reportagem: Bruna Aquino
Reportagem: Bruna Aquino
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