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quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

A Secretária de Estado de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro fala sobre a diferença de um policial penal estar chefiando a Secretaria, as adversidades, conquistas e planos futuros.

 

“A Polícia Penal não pode estar dissociada da Segurança Pública ”

Policial Penal Maria Rosa Lo Duca Nebel
Secretária de Estado de Adm. Penitenciária RJ

    Chefiando a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária desde abril a inspetora de Polícia Penal Maria Rosa Nebel é a primeira mulher no Brasil a ocupar o posto. Em entrevista a O DIA, a secretária fala sobre a posição pioneira, além da trajetória de 28 anos como servidora pública. Um dos focos da gestora é a área de inteli­gência: em parceria com o MPRJ, de abril a outubro, foram apreendidos 4.629 aparelhos celulares - um aumento de 25% em relação a todo o ano de 2021. Para o futuro, ela almeja entregar 16 mil vagas, todas com oportunidade de trabalho: "não há outro cami­nho a não ser disponibilizar atividades de trabalho, qualificação e cultura aos detentos”.

 

O DIA: Como é ser uma mulher em um universo tão predomi­nantemente masculino?

• Maria Rosa: É matar um leão por dia. no bom sentido. Ao me ver no gabinete, um amigo disse que eu estava “braba". Um colega respon­deu ao autor do comentário que ele nunca tinha sido diferente. O homem bravo é firme, valente; a mulher é “surtada". Não somos surtadas. Sei muito bem a minha responsabilidade, pois conheço as mazelas do sistema. Nessa trajetó­ria de 28 anos, estive em todos os locais que eram de homens. Minha nomeação tem um peso por ser a primeira policial penal no cargo. O governador Claúdio Castro, como uma pessoa visionária, acreditando na capacidade e competência da polícia penal, depositou muita con­fiança em um momento sensível.

 O DIA: Qual é a diferença de uma po­licial penal chefiar a Secretaria?

• Maria Rosa: Faz toda a diferença. Já passei pelos mais diversos setores dentro da instituição: fui chefe de turma, de segurança, de coordenação ju­rídica, administrei uma unidade prisional masculina. E também fui chefe de gabinete antes de me tor­nar secretária. A atual gestão busca uma visão de responsabilidade e planejamento estratégico.

 O DIA: Como foram esses oito meses à frente da Seap?

• Maria Rosa: Uma das maiores conquistas foi a execução do fundo do Depar­tamento Penitenciário Nacional (Depen): embora estivesse dispo­nível desde 2016, só tinha sido usa­do pelo RJ em 2018, durante a intervenção. Conseguimos executar orçamentos de 2017 a 2020, num total de mais de RS 19 milhões em verbas federais. Os recursos foram aplicados cm compras do dia a dia, como 4 mil cadeados e materiais de higiene e roupas de cama, mas não só. Adquirimos 540 computadores e reequipamos as áreas técnicas. Também buscamos uma maior in­tegração com outras instituições, como Depen, Polícias Civil e Militar. Guarda Municipal e Ministério Pú­blico. A Policia Penal não pode estar dissociada da Segurança Pública, já que o crime não vem só de fora para dentro. Nosso setor de inteligência precisa estar equipado para ante­cipar questões que podem acon­tecer. Em breve teremos acesso ao Cellebrite, software usado no caso Henrv Borel, e estamos fazendo o termo de referência para comprar bloqueadores de celulares.

 O DIA: A senhora passou pela Funda­ção Santa Cabrini, que faz a reinserção de detentos. Qual a im­portância desse tipo de trabalho?

• Maria Rosa: A passagem por lá me fez enten­der que não há outro caminho a não ser disponibilizar atividades de trabalho, qualificação e cultura aos detentos. Nossa lei prevê a pro­gressão da pena do regime fechado até a liberdade, então o Estado tem que amparar esse indivíduo. Além de melhorar a auto estima do pre­so, o trabalho de reinserção o aju­da a retornar à sociedade de forma digna. E começamos isso por den­tro: temos 80 privados de liberdade na secretaria. O preso não é obriga­do a trabalhar, mas a grande maio­ria anseia por essa oportunidade, sobretudo para ajudar a família, que acaba cumprindo pena junto.

 O DIA: Quais são os planos futuros? 

• Maria Rosa: Primeiramente, é preciso man­ter ou ampliar alguns ganhos. Es­távamos em último no ranking do Depen de atividades de educação e qualificação para apenados. Graças a uma virada de chave, passamos a 10º. Demos mais visibilidade às nossas ações, ficando também em 10º num ranking de transparência em que a Controladoria Geral do Estado avalia 69 órgãos. Hoje te­mos um site, estamos implantan­do o compliance e, em janeiro, a Seap lança seu Plano de Integri­dade. Além disso, estamos fazen­do o estudo de viabilidade de um novo complexo penitenciário, com a meta de construir cinco unidades por ano, chegando a 20. Ao todo, serão 16 mil novas vagas — todas com oportunidade de trabalho. Assim, daremos condições dignas para as penas serem cumpridas.






Fonte: O DIA - Informe do dia. 
Por: Aline Macedo
Data Publicação: 28/12/22








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