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quinta-feira, 14 de maio de 2020

Sergipe: Sistema prisional registra primeira morte por Covid-19


Detento estava no Presídio do bairro Santa Maria, foi internado no Huse e morreu há oito dias

Nesta quinta-feira, 14, a equipe de Reportagem Investigativa do Jornal da Cidade obteve, com exclusividade, a informação de que um homem que estava custodiado no Complexo Penitenciário Antônio Jacinto Filho (Compajaf) teria morrido no Hospital de Urgência de Sergipe (Huse) vítima da Covid-19.

Fotos: Ascom/Sejuc e Ascom/OAB


A informação é de um interno que estava na unidade e obteve o alvará de soltura recentemente. Segundo ele, o colega teria sentido os sintomas de forma acentuada e foi encaminhado ao Huse no início do mês de maio. Em seu relato, ele afirma ainda que diversos detentos estão com os sintomas da doença.
Questionada, a Secretaria da Justiça, Trabalho e Defesa do Consumidor (Sejuc) confirmou o registro do primeiro óbito em decorrência da Covid-19, popularizada como coronavírus. Trata-se do interno Laio Hérico Campos dos Santos, de 32 anos.

Segundo o órgão, Laio foi encaminhado para a enfermaria da unidade prisional e logo depois foi conduzido para o Hospital de Urgência de Sergipe (Huse). Segundo o primeiro levantamento dos especialistas da área de saúde, o interno apresentava “sintomas inespecíficos”, não apontando para o quadro infeccioso de coronavírus.

Ainda de acordo com a Sejuc, foi feito imediatamente o teste rápido, embora os primeiros sintomas não fossem do novo coronavírus, sendo o resultado negativo. Na ocasião, o preso foi mantido no Huse recebendo os cuidados necessários. Com o passar dos dias, o quadro se agravou e, segundo informações da própria Secretaria de Estado da Saúde (SES), “foi identificada uma evolução do quadro, com insuficiência renal e insuficiência respiratória”.
O órgão confirma ainda que, com o agravamento do quadro clínico, houve uma nova coleta no dia 5 de maio e o interno acabou evoluindo para óbito no dia seguinte. O resultado dessa coleta se deu na manhã desta quinta feira, 14, oito dias após a morte de Laio Hérico.

Diante dessa situação e também de provocações de diversos familiares de presos, a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil em Sergipe (OAB/SE) oficiou, na última segunda-feira, 11, a Sejuc para que repasse a atual situação de todos os presídios sergipanos diante da pandemia da Covid-19.

A OAB/SE quer saber o número de internos e funcionários que testaram positivo para a Covid-19, além dos casos suspeitos e que estão em isolamento. No mesmo documento, a entidade questiona a estrutura de atendimento, entrega de kits higiene, comunicação virtual entre interno e família e medidas sanitárias de desinfecção de todas as unidades prisionais.
De acordo com o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SE, Robson Barros, a atuação da comissão já acontece desde o início da pandemia.
“Desde o início da pandemia que a gente vem atuando em nossas áreas. Agora, com a restrição das visitas, nós solicitamos e foi acolhido que a direção dessas unidades terceirizadas permitam a ligação dos presos com os seus familiares. Semana passada, um preso foi solto e disse que todos os presos no Compajaf estavam com febre, dor de cabeça e com os sintomas da Covid. Eu recebi várias ligações de familiares, todos repetindo esse fato. Entrei em contato com a direção da unidade e foi explicado que todos que surgiram com qualquer sintoma, por precaução, já ficavam isolado. Elaborei um ofício e encaminhei para a Secretaria de Justiça solicitando informações não só daquela unidade, mas de todo o sistema prisional do Estado de Sergipe, com dados e informações a respeito de suspeitos, pessoas que testaram positivo entre funcionários e internos”, explica Robson.
A maior preocupação do advogado diz respeito ao número de leitos para tratamento da Covid e a possibilidade de um colapso na Saúde Pública. “A gente sabe que se o vírus entrar no sistema, a sociedade precisa entender que o impacto não é lá, é no sistema de saúde público, porque lá dentro não tem como internar um preso, ele vai para o sistema público e aí pode entrar em colapso. Por isso, a nossa preocupação para que o preso não tenha contato com pessoas externas”, alerta o presidente da Comissão.

Ele também pontua a eficácia do isolamento social diante do aumento no número de infectados. “Para se ter uma ideia, nós fizemos uma análise de como o isolamento é positivo no sentido de frear o avanço da doença, só tivemos aqui em Sergipe dois presos que testaram positivo e agentes prisionais já são quase 50, agentes do Estado e os terceirizados. A gente vê que os dois presos que testaram positivo chegaram no sistema já no período de isolamento e quarentena. O isolamento funciona, isso é uma questão que, infelizmente, algumas classes estão aí colocando em dúvida”, avalia o advogado.
Até o momento, além do interno Laio, três outros contraíram a doença no sistema prisional, um já recebeu alta e outros dois estão isolados em situação estável.


|Reportagem: Diego Rios/Jornal da cidade
 Fonte: Jornal de Sergipe

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