Detento estava no Presídio do bairro Santa Maria, foi internado no Huse e morreu há oito dias
Nesta quinta-feira, 14, a equipe de
Reportagem Investigativa do Jornal da Cidade obteve, com exclusividade, a
informação de que um homem que estava custodiado no Complexo
Penitenciário Antônio Jacinto Filho (Compajaf) teria morrido no Hospital
de Urgência de Sergipe (Huse) vítima da Covid-19.
Fotos: Ascom/Sejuc e Ascom/OAB |
A informação é de um interno que estava na unidade e obteve o alvará de soltura recentemente. Segundo ele, o colega teria sentido os sintomas de forma acentuada e foi encaminhado ao Huse no início do mês de maio. Em seu relato, ele afirma ainda que diversos detentos estão com os sintomas da doença.
Questionada, a Secretaria da Justiça,
Trabalho e Defesa do Consumidor (Sejuc) confirmou o registro do primeiro
óbito em decorrência da Covid-19, popularizada como coronavírus.
Trata-se do interno Laio Hérico Campos dos Santos, de 32 anos.
Segundo o órgão, Laio foi encaminhado
para a enfermaria da unidade prisional e logo depois foi conduzido para o
Hospital de Urgência de Sergipe (Huse). Segundo o primeiro levantamento
dos especialistas da área de saúde, o interno apresentava “sintomas
inespecíficos”, não apontando para o quadro infeccioso de coronavírus.
Ainda de acordo com a Sejuc, foi feito
imediatamente o teste rápido, embora os primeiros sintomas não fossem do
novo coronavírus, sendo o resultado negativo. Na ocasião, o preso foi
mantido no Huse recebendo os cuidados necessários. Com o passar dos
dias, o quadro se agravou e, segundo informações da própria Secretaria
de Estado da Saúde (SES), “foi identificada uma evolução do quadro, com
insuficiência renal e insuficiência respiratória”.
O órgão confirma ainda que, com o
agravamento do quadro clínico, houve uma nova coleta no dia 5 de maio e o
interno acabou evoluindo para óbito no dia seguinte. O resultado dessa
coleta se deu na manhã desta quinta feira, 14, oito dias após a morte de
Laio Hérico.
Diante dessa situação e também de
provocações de diversos familiares de presos, a Comissão de Direitos
Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil em Sergipe (OAB/SE) oficiou, na
última segunda-feira, 11, a Sejuc para que repasse a atual situação de
todos os presídios sergipanos diante da pandemia da Covid-19.
A OAB/SE quer saber o número de internos
e funcionários que testaram positivo para a Covid-19, além dos casos
suspeitos e que estão em isolamento. No mesmo documento, a entidade
questiona a estrutura de atendimento, entrega de kits higiene,
comunicação virtual entre interno e família e medidas sanitárias de
desinfecção de todas as unidades prisionais.
De acordo com o presidente da Comissão
de Direitos Humanos da OAB/SE, Robson Barros, a atuação da comissão já
acontece desde o início da pandemia.
“Desde o início da pandemia que a gente
vem atuando em nossas áreas. Agora, com a restrição das visitas, nós
solicitamos e foi acolhido que a direção dessas unidades terceirizadas
permitam a ligação dos presos com os seus familiares. Semana passada, um
preso foi solto e disse que todos os presos no Compajaf estavam com
febre, dor de cabeça e com os sintomas da Covid. Eu recebi várias
ligações de familiares, todos repetindo esse fato. Entrei em contato com
a direção da unidade e foi explicado que todos que surgiram com
qualquer sintoma, por precaução, já ficavam isolado. Elaborei um ofício e
encaminhei para a Secretaria de Justiça solicitando informações não só
daquela unidade, mas de todo o sistema prisional do Estado de Sergipe,
com dados e informações a respeito de suspeitos, pessoas que testaram
positivo entre funcionários e internos”, explica Robson.
A maior preocupação do advogado diz
respeito ao número de leitos para tratamento da Covid e a possibilidade
de um colapso na Saúde Pública. “A gente sabe que se o vírus entrar no
sistema, a sociedade precisa entender que o impacto não é lá, é no
sistema de saúde público, porque lá dentro não tem como internar um
preso, ele vai para o sistema público e aí pode entrar em colapso. Por
isso, a nossa preocupação para que o preso não tenha contato com pessoas
externas”, alerta o presidente da Comissão.
Ele também pontua a eficácia do
isolamento social diante do aumento no número de infectados. “Para se
ter uma ideia, nós fizemos uma análise de como o isolamento é positivo
no sentido de frear o avanço da doença, só tivemos aqui em Sergipe dois
presos que testaram positivo e agentes prisionais já são quase 50,
agentes do Estado e os terceirizados. A gente vê que os dois presos que
testaram positivo chegaram no sistema já no período de isolamento e
quarentena. O isolamento funciona, isso é uma questão que, infelizmente,
algumas classes estão aí colocando em dúvida”, avalia o advogado.
Até o momento, além do interno Laio,
três outros contraíram a doença no sistema prisional, um já recebeu alta
e outros dois estão isolados em situação estável.
|Reportagem: Diego Rios/Jornal da cidade
Fonte: Jornal de Sergipe
Nenhum comentário:
Postar um comentário